sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Será preciso redefinir a noção de gene?

Artigo de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público, em 06/09/2012
 
“São precisas novas definições do gene”, diz Thomas Gingeras, do Laboratório de Cold Spring Harbor – e um dos principais autores dos resultados hoje publicados   na Nature –, num comunicado emitido por aquela prestigiada instituição norte-americana.
 
A visão da genética convencional é que, numa primeira fase do fabrico de uma proteína humana, na sequência do gene que codifica essa proteína é “transcrita” numa outra sequência, feita à base de uma molécula ligeiramente diferente – o ARN. A seguir, essa molécula inicial de ARN será processada para dar origem a uma outra molécula, desta vez de “ARN mensageiro” (ARNm). É sob esta última forma que a informação genética contida no gene será transportada para fora do núcleo da célula – mais precisamente, para os ribossomas –, onde servirá de matriz para o fabrico da proteína por aquela maquinaria celular especializada.
 
Mas o trabalho que a equipa de Gingeras publica hoje na Nature, no âmbito do projecto ENCODE, vai contra esta visão por de mais simplista das coisas. Os cientistas fizeram uma análise de todas as transcrições de ADN em ARN produzidas por todo o genoma nas células humanas. E concluem que 75% cento do genoma é susceptível de ser transcrito em ARN (embora não em ARN mensageiro) – e não apenas os 2% que contêm os genes que codificam proteínas. Para mais, os resultados sugerem fortemente, salienta Gingeras, que grande parte desse ARN, apesar de não servir para fabricar proteínas, desempenha alguma função dentro das células.
 
Segundo Gingeras, “o comprimento daquilo que pensávamos ser os espaços entre os genes está a encolher”. As fronteiras entre os genes estão a esboroar-se, acrescenta, “pondo em causa a noção de que um gene é uma região discreta e localizada do genoma, separada dos outros por ADN inerte”.

 

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