domingo, 26 de janeiro de 2014

Os genes de um cão pré-histórico perduram nos cães actuais através de um cancro

Artigo publicado pelo jornal Público em 24/01/2014
A análise do ADN de um cancro dos cães permitiu ter uma ideia de como era o primeiro cão a ter padecido a doença, há mais de 10 mil anos.
 

O primeiro cão a padecer de um cancro hoje comum nos cães era provavelmente parecido com um husky
O cancro mais antigo do mundo ainda hoje activo é um cancro canino. Uma equipa internacional de cientistas determinou a sequência genética desse cancro e descobriu que terá surgido pela primeira vez num cão que viveu há uns 11 mil anos. Os seus resultados foram publicados na revista Science com data desta sexta-feira.
 
O cancro em questão é um cancro transmissível por acasalamento que provoca o crescimento de horríveis tumores genitais. Os cancros transmissíveis são raríssimos, sendo o único outro conhecido um cancro facial muito agressivo que afecta os diabos da Tasmânia e que se propaga através das mordidas, explica em comunicado o Instituto Sanger do Wellcome Trust, no Reino Unido.
 
A equipa liderada por Elizabeth Murchison, do Instituto Sanger e da Universidade de Cambridge, que inclui cientistas britânicos e da Austrália, Brasil e Itália, conseguiu – a partir do estudo de um tipo de mutações que se sabe ter-se acumulado nesses tumores caninos de forma progressiva e regular ao longo do tempo – estimar quando apareceu este cancro genital que é hoje uma doença comum dos cães de todo o mundo.
 
E não só: os cientistas constataram ainda que os genes do primeiro cão a ter padecido da doença ainda estavam presentes, hoje em dia, nas células cancerosas dos cães doentes.
Segundo os autores, esse cão pré-histórico terá sido parecido com um husky e tinha provavelmente pêlo curto de cor cinzenta acastanhada ou preta. Não foi contudo possível determinar o seu sexo. “Não sabemos por que é que aquele cão em particular deu origem a um cancro transmissível”, diz Murchison, citada no mesmo comunicado, “mas é fascinante olhar para atrás e reconstituir a identidade de um cão antigo cujo genoma ainda hoje vive nas células cancerosas que começou a espalhar.”
 
A análise genética do cancro também forneceu pistas sobre a evolução geográfica da doença. “Os padrões de variantes genéticas encontrados nos tumores provenientes de diferentes continentes sugerem que durante a maior parte da sua história, o cancro permaneceu confinado a uma população isolada de cães”, salienta a investigadora. “Espalhou-se para o resto do mundo nos últimos 500 anos, tendo provavelmente sido transmitida pelos cães que acompanhavam os exploradores nos navios, no início da era dos Descobrimentos.”

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