quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Não há dois narizes iguais (e por isso o mesmo cheiro é diferente para cada pessoa)

Artigo publicado pelo jornal Público em 15/12/2013
Uma equipa testou a variabilidade olfactiva humana e descobriu que, entre duas pessoas, há pelo menos uma diferença média de 30% nos receptores olfactivos.
 

O cheiro de uma rosa difere consoante a pessoa que a cheira
O olfacto parece um sentido etéreo, mas a sua fisiologia reduz-se à química e física que foram sendo apuradas por milhões e milhões de anos de evolução. No ar há pequenas moléculas suspensas que entram nas nossas vias aéreas quando respiramos. Algumas dessas moléculas ficam presas junto do tecido olfactivo e ligam-se a proteínas que estão nas membranas de células neuronais. Quando essa ligação acontece, há um sinal eléctrico que chega ao cérebro causando uma sensação.
 
Só que a constelação destas proteínas que estão nas membranas destas células do órgão olfactivo variam de pessoa para pessoa, produzindo uma diferença média de 30%. Esta diferença pode mudar completamente a forma como duas pessoas sentem o cheiro da mesma rosa, mostra um artigo publicado recentemente na revista Nature Neuroscience.
 
No genoma humano existem 400 genes que são a receita matriz para a construção das 400 proteínas que estão nas células do tecido olfactivo e que se ligam às dezenas de milhares de moléculas que nós cheiramos. Mas na população existem muitas variações para cada gene. Há cerca de 900 mil variações destes 400 genes. Essas variações resultam em proteínas ligeiramente diferentes, que podem fazer que uma pessoa só sinta o cheiro de uma molécula quando ela está mais concentrada no ar do que outra pessoa.
 
A equipa de Hiroaki Matsunami, do Centro Médico da Universidade Duke, em Durham, Carolina do Norte, Estados Unidos, foi estudar esta variabilidade. Os investigadores clonaram 511 variantes de receptores olfactivos humanos diferentes em células que facilmente crescem em laboratório. Depois, submeteram cada receptor a 73 moléculas diferentes que causam uma sensação olfactiva, e analisaram as respostas. Chegaram à conclusão que “dois indivíduos têm uma diferença funcional de mais de 30% dos seus receptores” a nível genético, lê-se no artigo.
 
Esta diferença estará na origem de como cada um sente os odores e os percepciona de uma forma positiva ou negativa. “Há muitos casos em que uma pessoa gosta de um cheiro e outra não. Isso é muito comum”, diz Hiroaki Matsunami, citado num comunicado. “Nós descobrimos que os indivíduos podem ser muito diferentes ao nível dos receptores que produzem, o que significa que quando cheiram alguma coisa, os receptores que são activados podem diferir muito dependendo genoma.”

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