sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Terra tem funcionado como "esponja", atrasando a subida do nível das águas

 AFP - Sapo 24 - 12/02/2016
Com o degelo das calotas polares devido às alterações climáticas, uma Terra cada vez mais quente e ressequida vai absorvendo parte desta água no seu interior, o que tem atrasado a subida do nível do mar. As conclusões são dum grupo de especialistas da Nasa.
 
As medições de satélite da Nasa, durante a última década, mostraram pela primeira vez que os continentes da Terra têm absorvido e armazenado mais 3,2 gigatoneladas de água nos solos, lagos e aquíferos subterrâneos, conclui um estudo publicado na revista Science. Este armazenamento abrandou temporariamente a subida do nível do mar em cerca de 20%, pode ler-se no estudo.
 
"Sempre achámos que a dependência crescente de água subterrânea para irrigação e consumo resultava numa transferência de água da terra para o oceano", afirmou J.T. Reager do Jet Propulsion Laboratory da Nasa, principal autor do trabalho. "O que não tinhamos percebido até agora é que, ao longo da última década, as mudanças no ciclo global da água mais do que compensaram as perdas que ocorreram com o bombeamento de águas subterrâneas, levando a Terra a agir como uma esponja, pelo menos temporariamente", explicou.
 
O ciclo global da água inclui a evaporação de água dos ocenaos, a sua precipitação sob a forma de chuva ou neve e o seu regresso aos oceanos, através dos rios. Não se sabia, até agora, qual o efeito que este armazenamento tinha no aumento do nível da água do mar, já que não há instrumentos terrestres que possam medir estas mudanças em todo o planeta. Os dados mais recentes vieram dos satélites da Nasa, lançados em 2002, conhecidos como Gravity Recovery and Climate Experiment (GRACE). As medições foram feitas no período entre 2002 e 2014.
 
O "aumento de água sobre a Terra foi distribuído globalmente, mas, se considerado em conjunto, equivale ao volume do Lago Huron, o sétimo maior lago do mundo", segundo os investigadores da Nasa. Famiglietti, um dos cientistas, salienta também que este é o primeiro estudo a observar padrões globais de mudança no armazenamento de água nos solos, com as regiões húmidas a ficarem ainda mais húmidas e as regiões secas a ficarem ainda mais secas.
 
Os investigadores acreditam que os resultados vão ajudar os cientistas a calcular melhor as mudanças do nível do mar nos próximos anos. "Estes resultados vão levar a um refinamento das projecções do nível da água do mar, a nível global, como os relatórios apresentados no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, que reconhecem a importância das mudanças provocadas pelo clima na hidrologia, mas que não conseguiram incluir qualquer estimativa fiável da sua contribuição para as alterações no nível do mar", disse o autor Jay Famiglietti, professor da Universidade da Califórnia. "Mas vamos precisar de um registo de dados muito mais extenso para compreender plenamente a causa destes padrões e se eles vão persistir", concluiu.

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