terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Choques das enguias eléctricas controlam à distância as suas presas

Will Dunham /Reuters

Como se tivessem um controlo remoto, as enguias eléctricas conseguem activar à distância neurónios dos peixes que estão perto de si, fazendo-os contorcer-se e revelar a sua presença.
A enguia eléctrica vive nas bacias hidrográficas de rios da América do Sul
 
Já se sabe que as enguias eléctricas podem disparar uma potente descarga eléctrica para atordoar as suas presas. Mas este choque pode ser também usado para obrigar os peixes que estão escondidos a denunciarem-se a si próprios, revela um novo artigo na última edição da revista Science.


Enguia a atacar um peixe depois de o ter imobilizado com um choque eléctrico
Este novo estudo mostra que as enguias usam os choques para controlarem remotamente as suas vítimas, fazendo com que peixes que estão escondidos se contorçam, denunciando assim a sua localização.

“Aparentemente, as enguias inventaram as armas de electrochoque muito antes dos humanos”, diz o biólogo Keneth Catania, único autor do artigo, da Universidade de Vanderbilt, em Nashville, no Tennessee, Estados Unidos.
O estudo revela precisamente o que o choque da enguia faz às suas vítimas. Em experiências de laboratório, o cientista mostrou como as descargas eléctricas das enguias activam à distância os neurónios das presas, que por sua vez activam os seus músculos.
Enquanto anda à caça, uma enguia dá periodicamente dois choques eléctricos de grande voltagem, separados por dois milissegundos. Dessa forma, provoca a contorção involuntária nas presas que estão por ali. Como é muito sensível aos movimentos na água, a enguia pode então detectar as contorções dos peixes, ficando a saber a localização dos que estão escondidos.
Depois, a enguia dá um choque eléctrico muito forte e prolongado para imobilizar completamente a presa, que sofre uma contracção muscular – tal como as contracções provocadas pelos aparelhos de electrochoques. Isto permite a captura fácil da presa.
“Passei uma grande parte da minha carreira a examinar as adaptações extremas dos animais e as suas habilidades. Já vi muita coisa interessante, mas as capacidades das enguias são espantosas, talvez a coisa mais surpreendente que já observei”, enfatiza Keneth Catania. “Afinal, elas podem gerar centenas de volts – que, só por si, já é incrível. Mas usar essa habilidade essencialmente para atingir [à distância] o sistema nervoso de outro animal e activar os seus músculos é um belo truque.”
As enguias eléctricas (Electrophorus electricus) têm um corpo em forma de serpente e cabeças achatadas, e podem chegar a medir entre 1,8 e 2,5 metros. Estes peixes vivem nas bacias hidrográficas dos rios Amazonas e Orinoco, na América do Sul.
As enguias têm órgãos eléctricos compostos por células especializadas chamadas precisamente “células eléctricas”, que funcionam como baterias e podem gerar uma descarga até aos 600 volts.
“Apesar de não se ter conhecimento de casos de mortes de pessoas devido aos choques eléctricos de enguias, elas são capazes de incapacitar humanos, cavalos e, obviamente, peixes com as suas descargas”, diz o biólogo.
Segundo o cientista, as enguias ainda usam esta capacidade com um terceiro objectivo: periodicamente, fazem descargas de baixa voltagem que funcionam como um radar para navegar em águas escuras e turvas.
 

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