sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Objectos de ferro mais antigos da Terra forjados a partir de meteoritos

Artigo publicado pelo jornal Público em 22/08/2013.
Como caíam do céu, os egípcios antigos atribuíam aos meteoritos propriedades mágicas e religiosas, usando-os para fazer objectos com valor estético e religioso.
 

As contas de ferro de meteoritos estão ao centro, ao lado de outras feitas com ouro e pedras como o lápis-lazúli e a ágata
Os mais antigos objectos de ferro já descobertos – contas de colares encontradas junto a esqueletos num cemitério egípcio com 5000 anos – foram forjados a partir de meteoritos, conclui um estudo publicado na revista Journal of Archaeological Science.
 
A análise profunda das contas, descobertas em 1911 por arqueólogos britânicos no Baixo Egipto, na localidade de El-Gerzeh, a cerca de 70 quilómetros do Cairo, revelou que são compostas por ferro e níquel de origem meteorítica.
 
As nove pequenas contas foram descobertas em sepulturas com 5350 a 5600 anos, milhares de anos antes da Idade do Ferro no Egipto, e faziam parte de colares com outros metais preciosos, como o ouro, ou pedras, como o lápis-lazúli ou a ágata. Encontram-se actualmente no Museu de Petrie do University College de Londres, segundo a agência AFP.
 
A equipa de Thilo Rehren, da Universidade Hamad bin Khalifa, em Doha, no Qatar, analisou as contas através do bombardeamento de neutrões, para ler a “assinatura” atómica de cada um dos elementos que compõem a liga de metal, tendo descoberto um elevado teor de níquel, fósforo, cobalto e germânio, que só existe em quantidades ínfimas nas ligas de ferro terrestres. Os cientistas concluíram assim que o metal usado para fazer as contas nasceu no espaço e chegou à Terra através de um meteorito.
 
Em Maio, uma outra equipa, das universidades Aberta e de Manchester, no Reino Unido, já tinha publicado um artigo, na revista Meteoritics and Planetary Science, sobre contas de ferro encontradas no cemitério de El-Gerzeh e que estão no Museu de Egiptologia da Universidade de Manchester: o resultado apontava para a sua origem extraterrestre. “Os meteoritos têm uma microestrutura e assinatura química únicas, porque arrefecem de forma incrivelmente lenta à medida que viajam pelo espaço. É realmente interessante ver que essa assinatura aparece nos artefactos egípcios”, diz Philip Withers, da Universidade Manchester, citado num comunicado.
 
“Hoje, vemos o ferro sobretudo como um metal prático, meio sem graça. No entanto, para os antigos egípcios era um material raro e bonito, e como caía do céu teria certamente propriedades mágicas e religiosas”, sublinha por sua vez outro elemento desta última equipa, a investigadora Joyce Tyldesley. “Por isso, usavam este metal extraordinário para criar pequenos objectos com significado estético e religioso, que eram tão importantes para eles que decidiam pô-los nas suas sepulturas.”

Sem comentários: