sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A Procura de Vida Extraterrestre

Eis que está de volta a velha teoria da panspermia segundo a qual a vida terá surgido no espaço e ter-se-á disseminado por todos os locais dos sistemas solares que reunissem condições propíceas ao seu desenvolvimento.

A ideia de que não estamos sós foi já defendida pelos filósofos da Grécia antiga, por volta do século VI a.C. e tem atravessado a história da humanidade, por vezes, com o sacrifício da própria vida dos seus defensores

Os cientistas têm tido a esperança de encontrá-la nos planetas Vénus, Marte e luas de Júpiter e Saturno, portanto dentro do nosso sistema solar. A utilização de equipamentos, cada vez mais sofisticados, que perscrutam os lugares mais recônditos do Universo, tem levado à descoberta de novos sistemas solares e, consequentemente, aumentado os possíveis locais onde a vida se possa ter alojado e evoluído.

A lógica e um certo sentido de humildade impelem-nos a crer que, num Universo tão vasto quanto o nosso, seria pouco provável que apenas na Terra tenha sido possível encontrar condições adequadas ao aparecimento e desenvolvimento da vida, quando se sabe que esta resiste ao vácuo e a temperaturas e radiações extremas.

Num artigo de Filomena Alves, jornalista do Diário de Notícias, intitulado "Nova bactéria muda forma de procurar vida no espaço", faz-se referência a uma conferência de imprensa, que foi amplamente pré-anunciada e publicitada, promovida pela NASA, incidindo sobre uma importante informação relacionada com a procura de vida extraterrestre.

Os media criaram a ideia de que teria sido encontrada na Terra uma forma de vida alienígena, quando e tão só ( o que em ciência é muito), a investigadora Felisa Wolfe-Simon anunciou ter encontrado no lago Mono, na Califórnia, uma bactéria que utiliza o arsénico no seu metabolismo. Este elemento natural que, na sua forma pura é um metal altamente tóxico, aparece na natureza normalmente combinado com outros elementos em moléculas orgânicas e inorgânicas, constitui um poderoso veneno para os seres vivos até agora conhecidos.

Perante este dado o bioquímico Steven Benner, que trabalha na Foundation for Applied Molecular, chamou a atenção para o caso de Titã, uma das luas de Saturno, em que as temperaturas são da ordem dos 180ºC negativos, como constituindo um local em que o arsénico poderia constituir-se um elo estável na estrutura de eventuais moléculas orgânicas.

As informações fornecidas na célebre conferência de imprensa vêm, mais uma vez, mostrar como o conhecimento actual é algo que não pode ser encarado como um conjunto de verdades absolutas, mas tão só o resultado que o trabalho investigativo e os equipamentos de que dispomos nos permite vislumbrar, o que nos leva a dizer que nada é tão incerto no futuro como as certezas de hoje.

Nos altares da ciência, a ideia de que o carbono, o hidrogénio, o azoto ou nitrogénio, o oxigénio, o fósforo e o enxofre eram os elementos básicos da vida, constituia uma verdade inquestionável e, eis que neste grupo se introduz um estranho, o arsénico, que vem substituir o fósforo nas moléculas do DNA e do RNA, os ácidos nucleicos, a quem cabe conter e transportar a informação genética, respectivamente.

Se no seu metabolismo esta bactéria, que Felisa Wolfe-Simon designou por GFAJ-1, substituiu o fósforo pelo arsénico, ou seja, "se um microrganismo pode fazer uma coisa tão inesperada na Terra, o que pode a vida fazer mais que ainda não vimos? É preciso descobri-lo" interrogou-se a investigadora, ao mesmo tempo que defendia que a vida "pode ser muito mais flexível do que geralmente pensamos".

Se há quem diga que "os caminhos do Senhor são insondáveis", talvez os caminhos da vida estejam também longe de serem previsíveis.

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