sábado, 28 de março de 2009

Já não é só na Primavera...

Se há disfunções que podem caracterizar os tempos modernos, esse papel cabe com toda a propriedade às alergias ou não apresentassem estas, desde há décadas, uma acentuada taxa de progressão.
Não bastando os pólens, os ácaros do pó, os fungos, as picadas de insecto, as penicilinas e outros fármacos, o látex dos preservativos, os amendoins e os pêssegos, as nozes e as avelãs, o peixe e o marisco, a mostarda e o sésamo, os cães e os gatos, surgem agora as "alergias sociais", os chefes, os subordinados e os equiparados, os pares e os menos pares, configurando o início, ou talvez não, de uma alergia social, de uma alergia ao trabalho ou ao seu local, percepcionados que são, por parte do sistema imunitário, como potenciais agressores (numa lógica de se não o és poderás vir a sê-lo)portadores da tal "proteína" ameaçadora da integridade.
A princípio é só um "feeling", um não-sei-quê indefinido, e, já que homem prevenido vale por dois, não há nada como mobilizar a defesa e vai de pôr os linfócitos B, umas células-fábrica muito convenientes, a produzir uma armazita, um anticorpo IgE (imunoglobulina E), que à cautela, se irá resguardar num mastócito, que os há por todo o organismo, qual sentinela vigilante pronta a "disparar primeiro e a perguntar depois". Sinal de que o sistema imunitário está a perder descernimento, a valorizar o acessório, da próxima vez que pareça surgir "mouro na costa", a tal suposta proteína maléfica, lá estarão à espera os mastócitos"enfeitados" com os anticorpos IgE para reconhecê-lo e, num ápice, abrirem as portas a uma torrente de histamina, leucotrienos e prostaglandinas. Pior que o fogo grego de Bizâncio, estas substâncias químicas irritantes actuando sobre as terminações nervosas levarão ao aparecimento de comichão, à inflamação dos tecidos, à vasodilatação e à produção de muco, podendo traduzir-se em asma, rinite e urticária. Em casos extremos pode mesmo ocorrer um choque anafilático como resultado de uma brusca e acentuada queda da pressão arterial decorrente da saída do plasma para os tecidos, podendo pôr em perigo a vida.
Para terminar diremos que na outra vertente, a que se insere na "alergia social" o resultado é a sensação de sufoco, o stress galopante e a intrépida vontade de encontrar lugares onde se dispensem anti-histaminícos e corticosteróides no natural fluir da vida.

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