quinta-feira, 27 de junho de 2013

Aluno português cria uma válvula mitral para o coração e vence concurso europeu

Texto de José Maria Pinheiro publicado pelo jornal Público em 27/06/2013
"A tese sobre válvulas mitrais para o coração de Ricardo Moreira foi uma das quatro premiadas.
Ricardo Moreira, 24 anos, permanece na Alemanha
O estudante português Ricardo Moreira, 24 anos, venceu o concurso Future Ideas, competição que premeia os melhores projectos de mestrado europeus desenvolvidos desde 2009. A final decorreu na passada sexta-feira, dia 21, em Amesterdão, Holanda, e o trabalho do aluno de Engenharia Biomédica da Universidade do Minho incide sobre a criação de uma válvula mitral inovadora para o coração.
 
“Baseei-me no funcionamento das válvulas biológicas para concretizar a minha ideia”, revela o jovem de Marco de Canaveses. “Retiram-se as células de doentes para depois as utilizarmos na construção de um molde em laboratório, que nos permite aperfeiçoar uma válvula com características semelhantes às do órgão original”, declarou o investigador ao PÚBLICO.
 
O estudante português teve a oportunidade de apostar neste projecto durante o período em que fez Erasmus na Universidade Técnica de Aachen, na Alemanha, onde terminou a sua tese com a nota máxima de 20 valores.
 
Com mais de 234 ideias a concurso, Ricardo Moreira ficou surpreso com a vitória: “O concurso encontra-se direccionado para teses com uma vertente social”, revela. “O próprio júri não possuía bases suficientes para compreender o funcionamento do meu trabalho, pelo que tiveram de o remeter para uma equipa de especialistas que procedeu à sua avaliação.”
 
O projecto foi financiado exclusivamente pela Universidade Técnica de Aachen, encontrando-se agora numa etapa de testes pré-clínicos, em ovelhas, no Instituto Helmholtz-Aachen. “A minha universidade de origem [Minho] não está preparada para incubar um trabalho desta natureza, muito por culpa da falta de recursos financeiros”, explica.
 
Ricardo Moreira tem esperança de que a sua criação possa vir a ser comercializada dentro de dez anos, dedicando-se agora a um projecto relacionado com válvulas cardíacas."

Aluno da Universidade do Minho transforma bicicleta em veículo eléctrico

Texto de José Maria Pinheiro publicado pelo jornal Público em 25/06/2013.
"Projecto vai ser apresentado em simpósio na Universidade do Minho.
Autor quer entrar no mercado com a BeUM
Como transformar uma bicicleta tradicional num veículo eléctrico? Rui Araújo, aluno do mestrado integrado de Engenharia Electrónica Industrial e de Computadores da Universidade do Minho, conseguiu e vai apresentar o seu projecto, esta quarta-feira, no pólo de Guimarães da instituição, durante o simpósio de Electrónica de Potência e Energia.
 
A bicicleta chama-se BeUM – Bicicleta Eléctrica da Universidade do Minho. O autor pretende entrar no mercado com este veículo e justifica a sua venda em localidades onde as condições do terreno dificultam as deslocações por bicicleta.
 
“Esta ideia visa a aplicação por inteiro da legislação portuguesa no que diz respeito às bicicletas eléctricas, algo que não se verifica em grande parte dos casos”, explica Rui Araújo ao PÚBLICO.
 
Através de um motor BLDC (brushless direct current), instalado na roda traseira, é possível apoiar o utilizador com três modos de auxílio na tracção, reduzindo assim a força muscular necessária, e, por conseguinte, a fadiga. A bateria de iões de lítio polímero confere uma autonomia máxima de 60 quilómetros. “Tanto a bateria, como o sistema electrónico de controlo do motor e os circuitos de comando foram adquiridos, enquanto toda a componente electrónica foi desenvolvida por nós”, adianta Rui Araújo."

Melros da cidade evoluem e ficam mais tímidos

Texto de Nicolau Ferreira publicado pelo jornal Público em 25/06/2013.
"Investigadora portuguesa mostra que populações de melros da cidade comportam-se de forma diferente das do campo.
Populações do campo são mais curiosas em relação a objectos novos
A revolução industrial teve o condão de acelerar o crescimento das cidades, com um impacto incontornável no mundo natural. Um dos primeiros efeitos observados, que hoje é um exemplo clássico da adaptação de uma espécie ao ambiente, aconteceu quando uma população de borboletas, em poucas gerações, passou a ter asas pretas em vez de brancas graças à fuligem produzida pelas fábricas. Agora, um trabalho feito por uma portuguesa observou aquilo que poderá ser a adaptação da personalidade do melro, Turdus merula, ao ambiente citadino.
 
O estudo, publicado na revista Global Change Biology, mostra que estas aves estão a tornar-se mais tímidas em relação a situações novas do que as populações rurais da espécie.
 
O melro habita cidades europeias há pelo menos dois séculos, com aparente sucesso. Catarina Miranda e colegas do Instituto Max Planck de Ornitologia (Alemanha), onde a portuguesa realizou este estudo no âmbito do seu doutoramento, analisaram primeiro uma série de trabalhos publicados que avaliaram o comportamento de espécies de animais que colonizaram as cidades, comparando essas aves com populações que se mantiveram no meio rural. Em 27 de 29 estudos, as populações citadinas das espécies apresentavam mudanças de comportamento.
 
Depois, a equipa recolheu 25 melros bebés de uma população rural e 28 de uma população urbana com três a 11 dias de idade. No laboratório, estas populações foram mantidas no mesmo ambiente e as aves foram manuseadas pelos biólogos. Mais tarde, as duas populações foram submetidas a um ambiente com objectos novos ao lado dos alimentos. Os cientistas verificaram que enquanto os melros vindos do campo eram muito mais curiosos perante os novos objectos, os da cidade tinham mais medo: não se aproximavam, mesmo que para isso ficassem sem comer.
 
Os resultados mostram que esta diferença dificilmente se deverá à aprendizagem, já que os melros estiveram poucos dias em estado selvagem, é antes intrínseco. Assim, parece que é a informação genética que já dita a personalidade mais tímida destes animais. Isto pode querer dizer que, ao longo das gerações, os melros que tinham já por si uma personalidade tímida estavam adaptados às cidades e tiveram mais sucesso na vida urbana. Porquê? “Poderá ser mais vantajoso para os animais urbanos, em que os recursos alimentares tendem a ser mais estáveis, enquanto o contacto com situações novas pode representar um perigo potencial maior”, lê-se no artigo."

Sequenciado genoma de cavalo com 700 mil anos, o mais antigo de sempre

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 27/06/2013.
 
Em cima, um cavalo de Przewalski, subespécie que se sabe agora ser 100% selvagem; ao lado, os ossos fossilizados do cavalo com 700 mil anos cujo genoma acaba de ser sequenciado
"Uma equipa internacional de cientistas fez agora algo que era considerado impossível por muitos especialistas: obteve o primeiro "rascunho" da totalidade do genoma de um fóssil de cavalo com cerca de 700 mil anos de idade. Os seus resultados são publicados hoje na revista Nature e multiplicam por cerca de 10 a idade dos fósseis mais antigos a partir dos quais é possível extrair ADN (o genoma mais antigo até aqui, sequenciado em 2012, era o de uma espécie de homens arcaicos, os Denisovanos, que viveram na Sibéria há uns 80 mil anos).
 
A "saga" do cavalo começou em 2003 com a descoberta pela equipa - liderada por Ludovic Orlando e Eske Willerslev, da Universidade de Copenhaga, Dinamarca -, no solo eternamente gelado do Yukon, território canadiano na fronteira com o Alasca, de fragmentos de um osso fossilizado do pé de um equídeo ancestral. Devido às condições de frio extremo, o ADN dos fósseis fora preservado desde o início do Pleistoceno Médio, há entre 800 mil e 125 mil anos, época em que mamíferos como mamutes, mastodontes, camelos, ursos, hienas, chitas, lobos, alces, grandes gatos - e também cavalos - reinavam nas grandes extensões da América do Norte.
 
O trabalho de sequenciação genética não foi fácil, uma vez que o ADN dos fósseis tinha, apesar de tudo, sofrido os embates do tempo, fragmentando-se e ficando contaminado, ao longo dos milénios, pelo ADN de microorganismos. Mas graças às mais avançadas técnicas, explica a Universidade de Copenhaga em comunicado, ao fim de três anos os cientistas acabaram por reconstituir o genoma inteiro, como se de um puzzle se tratasse. Este primeiro "rascunho" ainda não possui a resolução suficiente para revelar em pormenor a história evolutiva do género Equus - que inclui os cavalos, os burros e as zebras -, mas as primeiras conclusões agora apresentadas deixam antever, segundo os autores, o tipo de descobertas que poderão vir a ser feitas no futuro.
 
Estes cientistas compararam o genoma vindo do fóssil de cavalo com 700 mil anos com os genomas de outro fóssil de cavalo, este com 43 mil anos, de seis cavalos actuais e de um burro. E descobriram, antes de mais, que o último antepassado comum a todos os equídeos modernos viveu há entre quatro milhões e quatro milhões e meio de anos - ou seja, há duas vezes mais tempo do que se pensava.
 
Uma outra descoberta foi que o tamanho das populações de cavalos sofreu grandes flutuações, ao sabor das alterações climáticas. "Era bom ser um cavalo quando estava frio e muito mau quando estava calor", resumiu com humor Willerslev em conferência de imprensa organizada pela Nature.
 
Os resultados incluem mesmo "um final feliz", lê-se no comunicado: vêm finalmente resolver a questão de saber se os chamados cavalos-de-przewalski são ou não genuinamente selvagens. E a resposta da genética é... afirmativa: a linhagem destes animais, ameaçados de extinção e dos quais só restam hoje no mundo dois milhares de exemplares (ver Últimos cavalos selvagens do planeta vivem no Alentejo, PÚBLICO de 30/8/2010), divergiu da dos cavalos domésticos há cerca de 50 mil anos. "Uma das questões era a de saber se estes cavalos se tinham misturado com os cavalos domésticos", disse Willerslev aos jornalistas, "mas agora sabemos que eles são basicamente 100% selvagens - e que vale a pena preservá-los, porque são os últimos representantes vivos dos cavalos selvagens."
 
E qual terá sido o aspecto do cavalo há 700 mil anos?. "Ainda não temos muita informação morfológica", respondeu Orlando, "mas sabemos que não era um tipo de cavalo diferente dos actuais. E parece ter sido um cavalo de grande porte". Mas terá sido um bólide como os cavalos de corrida actuais? "Os genes que fazem dos cavalos de hoje máquinas de correr não estavam presentes no genoma do cavalo há 700 mil anos", frisa o cientista. "Portanto, mesmo que fossem rápidos, essa característica teria dependido de genes diferentes dos de hoje."
 
Last but not least: num comentário na Nature um especialista australiano e um neozelandês escrevem que os resultados abrem caminho para a possibilidade de recuar ainda mais no tempo na evolução humana, através da sequenciação genética de homens primitivos, como o Homo erectus, que surgiram na Terra há quase dois milhões de anos."

Japão deverá aprovar ensaios clínicos com células estaminais pluripotentes

Artigo da LUSA publicado pelo jornal Público em 26/06/2013.
"Comissão já disse que sim a uma terapia com nova tecnologia para tratar degeneração macular, uma forma de cegueira relacionada com a idade. Ensaios vão começar em 2014.
As células estaminais pluripotentes induzidas são criadas a partir de células adultas conduzidas a um estado quase embrionário
Uma comissão governamental japonesa aprovou nesta quarta-feira a realização dos primeiros ensaios clínicos mundiais de medicina regenerativa em humanos, feitos com células estaminais pluripotentes induzidas.
 
Os ensaios clínicos iniciar-se-ão no próximo ano, devendo o ministro japonês da Saúde respeitar o parecer da comissão e validar o projecto apresentado pela Fundação para a Investigação Biomédica e a Inovação, um centro hospitalar em Kobe, a Oeste no Japão.

Os ensaios visam tratar uma doença ocular, a degeneração macular relacionada com a idade, que é a principal causa de cegueira dos maiores de 55 anos nos países industrializados. Para tal, os cientistas irão cultivar células da retina para as implantar, segundo a AFP.

As células estaminais pluripotentes induzidas são criadas a partir de células adultas conduzidas a um estado quase embrionário. Desta forma, voltam a ter a capacidade de se diferenciarem em todos os tipos de células em função do meio envolvente onde se encontram.

No ano passado, o japonês Shinya Yamanaka e o britânico John Gurdon foram recompensados com o prémio Nobel da Medicina por terem conseguido reprogramar as células adultas em células estaminais pluripotentes, processo chave para o futuro da medicina regenerativa.

A utilização destas células não coloca problemas éticos importantes, ao contrário do uso das células estaminais dos embriões humanos, segundo a AFP."

Há três planetas na zona habitável de uma estrela

Artigo publicado pelo jornal Público em 25/06/2013.
"Astrónomos combinaram novas observações com outras mais antigas de uma estrela chamada Gliese 667C e encontraram três “super-Terras” que são “bons candidatos à presença de vida”
Impressão artística do sistema Gliese 667C
As observações anteriores já tinham permitido concluir que a estrela Gliese 667c acolhia três planetas, um deles a orbitar numa região onde a água pode existir sob forma líquida, ou seja, onde será possível existir alguma forma de vida. Os astrónomos quiseram saber mais ainda e foram à procura de outros planetas, comparando e cruzando os dados recolhidos por diferentes telescópios. Uma equipa de astrónomos liderados por Guillem Anglada-Escudé da Universidade de Göttingen, Alemanha, e Mikko Tuomi, da Universidade de Hertfordshire, Reino Unido, encontrou, de facto, algo mais.
 
Segundo explicam num comunicado do Observatório Europeu do SUL (ESO) foram encontradas “evidências da existência de até sete planetas em torno da estrela”. A estrela observada faz parte de um sistema estelar triplo que está situado a 22 anos-luz de distância na constelação de Escorpião e que se encontra muito próximo do planeta Terra. Estes planetas agora detectados orbitam a terceira estrela mais ténue do sistema estelar triplo.
 
“Sabíamos, a partir de estudos anteriores, que esta estrela tinha três planetas e por isso queríamos descobrir se haveria mais algum,” diz Tuomi, no comunicado do ESO. “Ao juntar algumas observações novas e analisando outra vez dados já existentes, conseguimos confirmar a existência desses três e descobrir mais alguns. Encontrar três planetas de pequena massa na zona habitável de uma estrela é algo muito excitante!”

Três destes planetas são super-Terras – planetas com mais massa do que a Terra mas com menos massa do que Urano ou Neptuno – que se encontram na zona habitável da estrela. “Esta é a primeira vez que três planetas deste tipo são descobertos nesta zona num mesmo sistema”, refere o comunicado.
 
“O número de planetas potencialmente habitáveis na nossa galáxia é muito maior se esperarmos encontrar vários em torno de cada estrela de pequena massa – em vez de observarmos dez estrelas à procura de um único planeta potencialmente habitável, podemos agora olhar para uma só estrela e encontrar vários planetas”, acrescenta o co-autor Rory Barnes (Universidade de Washington, EUA), no mesmo comunicado.
 
Além das três super-Terras situadas na zona habitável existem neste sistema dois planetas quentes situados mais próximo da estrela e dois planetas mais frios em órbitas mais afastadas. De acordo com as análises e cálculos efectuados pensa-se que “os planetas situados na zona habitável e os dois que se encontram mais próximo da estrela apresentam sempre a mesma face virada à estrela, o que significa que o seu dia e o seu ano têm a mesma duração, e num lado do planeta é sempre de dia, enquanto no outro é sempre de noite”.
 
A equipa usou dados recolhidos por vários instrumentos – desde o espectrógrafo UVES montado no Very Large Telescope do ESO, no Chile, ao Carnegie Planet Finder Spectrograph (PFS) montado no Observatório de Las Campanas, no Chile, ao espectrógrafo HIRES montado no telescópio Keck de 10 metros, no Mauna Kea, Havai: a estes dados juntou-se ainda “ uma enorme quantidade de dados do HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher), instrumento montado no telescópio de 3,6 metros do ESO, no Chile, obtidos anteriormente no âmbito de outro projecto."

Há poeira fria a sair de um buraco negro

Artigo publicado pelo jornal Público em 20/06/2013.
"Através da detecção de luz infravermelha foi possível descobrir poeira cósmica a ser empurrada de um buraco negro.
Uma representação da poeira a ser empurrada do buraco negro
No centro das galáxias costumam existir buracos negros activos. Uma equipa de investigadores observou agora que de um desses buracos negros está a sair poeira fria, ao mesmo tempo que poeira mais quente forma um donut em torno do buraco e é sugada por ele, revela um artigo publicado nesta quinta-feira na revista Astrophysical Journal.
 
O trabalho foi feito por uma equipa internacional que inclui investigadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos ou do Instituto Max Planck, na Alemanha, e que utilizaram o Interferómetro do Very Large Telescope, o telescópio do Observatório Europeu do Sul (ESO, sigla em inglês) instalado no cimo do monte Paranal, no deserto de Atacama, no Chile.
 
Com este instrumento, os astrónomos observaram o centro da galáxia NGC 3783, onde um buraco negro irradia uma forte luz infravermelha. Esta luz denuncia uma quantidade enorme de pó cósmico situado em torno da buraco negro. Este pó foi captado pela gravidade do buraco negro, como quando a água desaparece num ralo originando à volta um remoinho.
 
Estes buracos negros activos no meio das galáxias são objectos muito energéticos a que se chamam núcleos activos de galáxias. O material no donut está a temperaturas entre 700 e 1000 graus Celsius, mas o interferómetro descobriu poeira cósmica, mais fria e a libertar radiação infravermelha menos energética, que está a ser empurrada acima e abaixo do buraco negro.
 
“Esta é a primeira vez que conseguimos combinar observações detalhadas no infravermelho médio da poeira fria, à temperatura ambiente, com observações igualmente detalhadas da poeira muito quente”, explica Sebastian Hönig, da Universidade da Califórnia, autor principal do artigo, num comunicado do ESO.
 
A poeira fria forma um fluxo constante que é empurrado para fora do buraco negro, na direcção vertical à do donut de poeira, nos dois sentidos. O que se pensa é que a voragem de material do buraco negro produz uma radiação intensa que empurra a poeira mais fria. Ainda não se percebe como é que estes dois fenómenos complexos e aparentemente antagónicos estão ligados e permitem aos buracos negros existirem e crescerem."