terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Lula faz “sofisticadas manobras de voo”


Cientistas japoneses desvendam os truques que a lula utiliza para voar

Publicado em www.cienciahoje.pt  2013-02-11

Lulas utilizam voo para fugirem dos predadores.
Uma equipa de investigadores da Universidade de Hokkaido (norte do Japão) desvendou as técnicas de propulsão que as lulas utilizam para conseguirem sair da água e deslizar no ar até 30 metros durante vários segundos.
No artigo intitulado «A lula oceânica voa», os especialistas definem esta surpreendente habilidade como uma “sofisticada manobra de voo”.
Os cientistas levaram a cabo o estudo a partir de uma fotografia que foi tirada a este de Tóquio e onde se vê mais de uma centena de moluscos a voar.
A equipa, liderada pelo professor Jun Yamamoto, mostra como depois de se impulsionarem para fora do mar, as lulas são capazes de ganhar lanço a partir de uma corrente de água e de ficarem no ar durante vários segundos, ganhando velocidade estendendo a cauda e tentáculos, que utilizam como asas.
O artigo revela que se trata de um movimento que a lula – com apenas 20 centímetros – utiliza como manobra de fuga quando é ameaçada por predadores como atuns e golfinhos.
Projeto ECOAL–MGT
Nova tecnologia em fibra ótica vai minimizar impacto ambiental


Sistema permite identificar perigos decorrentes de resíduos de carvão


Publicado em www.cienciahoje.pt 2013-02-07



Fibra ótica permite monitorizar resíduos perigosos.
Uma nova tecnologia em fibra ótica, que quando combinada com modelos geológicos apropriados, permite monitorizar continuamente os resíduos perigosos de carvão depositados nas antigas minas e prever eventuais processos de combustão espontânea. O sistema piloto vai ser implementado no segundo semestre de 2013, mas o INESC TEC (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores-Tecnologia e Ciência) e parceiros já começaram a desenvolver a tecnologia, que será testada em São Pedro da Cova (Gondomar).

Só no Norte de Portugal há mais de 20 escombreiras resultantes da exploração de carvão, a céu aberto. Parte destas escombreiras localiza-se perto de centros urbanos, o que constitui um grave perigo ambiental, uma vez que os resíduos de carvão, sobretudo quando entram em combustão, emitem gases tóxicos responsáveis por poluição atmosférica, chuvas ácidas, destruição de fauna e flora e aparecimento de doenças, particularmente do foro respiratório.


O INESC TEC (coordenação), a Universidade do Porto (Departamento de Geociências Ambiente e Ordenamento do Território da Faculdade de Ciências), a Universidade de Alcalá, a Universidade Pública de Navarra (ambas de Espanha) e a Universidade de Limoges (França) juntam-se no projeto europeu ECOAL-MGT (Ecological Management of Coal Waste Piles in Combustion) para desenvolver e testar, em ambiente real, uma solução integrada que deverá permitir conhecer a evolução da escombreira.


A equipa está a desenvolver uma tecnologia em fibra ótica que recebe dados resultantes da monitorização da emissão de gases e da temperatura da escombreira, que são posteriormente tratados por modelos geológicos. A utilização de tecnologia em fibra ótica garante segurança (pois é feita remotamente), análise da informação em tempo real e leitura multiponto. Pretende-se identificar perigos em tempo útil, de forma a definir ações corretivas e minimizar o impacto ambiental negativo dos resíduos de carvão.


A freguesia de São Pedro da Cova (Gondomar), cujas antigas minas possuem resíduos perigosos de carvão, foi selecionada para testar um protótipo desta nova tecnologia de monitorização, que se espera possa ser validada para aplicação posterior em larga escala.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Vírus geneticamente modificado mata cancro

Texto divulgado por Sapo Saúde em 11/02/2013
"Os 16 doentes que receberam uma dose elevada da terapia sobreviveram em média 14,1 meses
Um vírus geneticamente modificado testado em 30 doentes em fase terminal de cancro do fígado prolongou significativamente as suas vidas, matando os tumores existentes e impedindo o crescimento de novos, informaram cientistas.

“Pela primeira vez na história da medicina demonstrámos que um vírus geneticamente manipulado pode melhorar a sobrevivência de doentes com cancro”, disse no domingo David Kirn, co-autor do estudo internacional, à agência France Presse.

Os 16 doentes que receberam uma dose elevada da terapia sobreviveram em média 14,1 meses, contra 6,7 meses dos 14 restantes pacientes que receberam uma dose mais baixa.

O ensaio durante quatro semanas com a vacina Pexa-Vec ou JX-594, divulgado na revista Nature Medicine, pode representar um progresso no tratamento de tumores sólidos avançados.

“Apesar dos avanços no tratamento do cancro nos últimos 30 anos, com quimioterapia e biológicos, a maioria dos tumores sólidos continuam incuráveis depois de metastizarem (se espalharem para outros órgãos)”, escreveram os autores do estudo.

O Pexa-Vec “foi concebido para se multiplicar e subsequentemente destruir as células cancerosas, ao mesmo tempo que torna o sistema imunitário dos doentes também capaz de as atacar”, disse Kirn, da empresa de bioterapia Jennerex com sede na Califórnia.

“Os resultados demonstraram que o tratamento Pexa-Vec, com ambas as doses, resultou na redução do tamanho do tumor e na diminuição do fluxo sanguíneo para os tumores”, informou a Jennerex num comunicado, adiantando que os dados mostram igualmente que “o tratamento induziu uma resposta imune contra o tumor”.

Os autores do estudo referiram que um ensaio em maior escala tem de confirmar os resultados e que a fase seguinte, envolvendo cerca de 120 pacientes, já está a ser preparada.

O Pexa-Vec também está a ser testado em outros tipos de cancro."

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Este poderá ter sido o antepassado comum a quase todos os mamíferos

Texto de Ana Gerschenfeld publicado pelo jornal Público em 08/02/2013.
"Ao combinar uma enorme massa de dados genéticos e anatómicos, foi possível descrever e datar o "pai" de todos os mamíferos placentários - dos roedores aos elefantes, dos mamíferos marinhos aos humanos.
Visão de artista do hipotético antepassado da maioria dos mamíferos
Um bichinho pouco maior do que um ratinho, focinho em ponta, dentes afiados, pêlo castanho-acinzentado, cauda longa e peluda. Pesa menos de meio quilo e alimenta-se de insectos. Desloca-se agilmente de um lado para outro. Viveu há uns 65 milhões de anos, depois de os dinossauros terrestres e os grandes répteis terem sido varridos da face da Terra.

Não é totalmente seguro que tenha sido esse o seu aspecto e comportamento exactos: ninguém até aqui encontrou os seus restos fósseis. Mas um estudo de uma equipa internacional, hoje publicado na revista Science, conclui que o antepassado comum às cerca de 5100 espécies de mamíferos que povoam o nosso planeta - e cujas fêmeas geram a sua prole dentro do útero, numa placenta - era muito provavelmente parecido com este animalzinho.

Um grupo de 23 investigadores - do Museu Carnegie de História Natural (EUA), do Museu Americano de História Natural (EUA), de várias universidades norte-americanas e de uma universidade canadiana - finalizou um projecto iniciado há seis anos (e financiado pela National Science Foundation dos EUA) designado ATOL (Assembling the Tree of Life). O trabalho é o primeiro a combinar, em grande escala, dados vindos da análise ao ADN de uma série de espécies vivas de mamíferos ditos "placentários" com dados morfológicos de espécies vivas e extintas do mesmo tipo de mamíferos. Os mamíferos placentários vão dos roedores aos elefantes, das baleias aos gatos, aos cães e aos humanos. Trata-se de facto de todas as espécies de mamíferos, excepto os marsupiais (cangurus) e um punhado de espécies que põem ovos (como o ornitorrinco).

Para além de conferir um rosto possível ao nosso longínquo antepassado primordial, os resultados hoje revelados poderão pôr fim a um debate que dura há décadas: o de saber quando é que os mamíferos conquistaram a Terra. Será que a sua "explosiva" diversificação e expansão foram desencadeadas, há menos de 65 milhões de anos, pelo facto de os dinossauros - juntamente com 70% das outras espécies - terem desaparecido na sequência da colisão de um meteorito ou de um cometa com a Terra, deixando livre um importante nicho ecológico? Ou será que, tal como estipula uma teoria concorrente, a explosão evolutiva dos mamíferos aconteceu, pelo contrário, muito antes do fim dos dinossauros e dos répteis gigantes, devido à fragmentação de um hipotético supercontinente, baptizado Gondwana, que se pensa terá dado origem aos actuais continentes e subcontinentes austrais (América do Sul, Índia, Austrália e Atárctida)?

Os novos resultados abonam a favor da primeira opção. Sugerem fortemente que, se um cataclismo cósmico não tivesse dado o "golpe de graça" aos tiranossauros, diplodocos e outros ferozes gigantes, há pouco mais 66 milhões de anos (como indica a mais recente e precisa datação desse evento, anunciada na mesma edição da Science - ver caixa), poderíamos não estar aqui para contar a história.

O problema com o ADN

A partir dos anos 1990, a genética permitiu estruturar a genealogia das espécies ao nível molecular. Só que os resultados das análises de ADN contradiziam as datações obtidas a partir do registo fóssil, fazendo aparentemente recuar, em dezenas de milhões de anos, o início da expansão dos mamíferos.

A questão é que o ADN sozinho não chega para reconstituir a história das espécies, tal como as provas genéticas forenses não chegam para resolver um crime. "Desvendar a árvore da vida é como juntar os elementos encontrados na cena de um crime", diz Maureen O"Leary, da Universidade de Stony Brook (EUA) e líder da equipa, em comunicado do Museu Americano da História Natural. "As ferramentas genéticas acrescentam informações importantes, mas também são precisos outros indícios físicos - um cadáver, por exemplo. E nas ciências da vida, são precisos fósseis e dados anatómicos. É a combinação de todos esses dados que produz a reconstituição mais informada do passado." Foi essa integração dos dois tipos de atributos, genéticos e físicos, que a equipa fez com um nível de pormenor sem precedente.

Outros estudos já tinham associado a genética dos animais a várias centenas de características morfológicas, explica um comunicado do Museu Carnegie. Mas desta vez, graças a uma aplicação Web chamada MorphoBank, acessível em www.morphobank.org, os cientistas puderam cruzar a genética com milhares de elementos multimédia (imagens, descrições, dados quantitativos, etc.) relativos uns 4500 traços físicos de cerca de 85 espécies de mamíferos placentários. "Olhámos para todos os aspectos da anatomia dos mamíferos, do crânio ao esqueleto passando pelos dentes, os órgãos internos, os músculos e até os padrões da pelagem", diz o co-autor John Wible, do Museu Carnegie.

A nova árvore da vida é a mais completa de sempre. E mostra que os mamíferos placentários surgiram rapidamente a seguir à extinção dos dinossauros, 200 mil a 400 mil anos depois do cataclismo que acabou com eles. "A nossa estimativa temporal é cerca de 36 milhões de anos mais tardia do que a estimativa puramente baseada nos dados genéticos", diz Marcelo Weksler, co-autor actualmente na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ao mesmo tempo, isto sugere que a fragmentação do Gondwana não teve nada a ver com a expansão dos mamíferos. E foi também com base nos novos resultados que um artista pintou o retrato do nosso hipotético antepassado."

Os vulcões de lama do golfo de Cádis e as amêijoas gigantes que lá vivem

Texto de Teresa Firmino publicado pelo jornal Público em 07/02/2013.
"Zonas de emissão de gases no fundo do mar sustentam ecossistemas biológicos que obtêm nutrientes através da síntese de elementos químicos, em vez da luz solar. É o caso de certas amêijoas.
Frente a Portugal e Espanha, a alguns milhares de metros de profundidade, o chão do golfo de Cádis está pejado de vulcões de lama. A esses vulcões juntam-se agora outros três, um deles coberto por amêijoas gigantes. Mas, teremos ouvido bem? Vulcões de lama e amêijoas gigantes?

É isso mesmo: estes vulcões expelem materiais argilosos, muitas vezes carregados de gases vindos do interior da Terra, essencialmente metano, que depois fica aprisionado nas moléculas de água congelada nos sedimentos. Os hidratos de gás, uma combinação de metano e outros gases presos nos cristais de gelo, são conhecidos no mar desde os anos de 1970. No golfo de Cádis, a sua detecção, e logo com hidratos de gás, deu-se em 1999, na área marroquina.

Nessa expedição, de cientistas norte-americanos, encontravam-se portugueses, daí que um dos vulcões se chame Adamastor. No ano seguinte, localizou-se o primeiro em águas portuguesas, o Bonjardim.

O golfo de Cádis é uma zona de fronteira de placas tectónicas, neste caso, as placas africana e eurasiática estão em colisão. Devido a essa compressão, ascendem até ao fundo do mar sedimentos argilosos existentes em profundidade, trazendo gases, e eis que surgem estes vulcões. Há 50 confirmados, mas agora uma equipa portuguesa revela que a área de vulcões de lama se prolonga mais para oeste do que apontavam os estudos, na direcção das águas portuguesas.

Os três novos vulcões de lama, a 4400 metros de profundidade, situam-se a 180 quilómetros a sudoeste do cabo de São Vicente. A sua descoberta resultou de uma campanha, no navio alemão Meteor, em Fevereiro e Março de 2012, para o projecto SWIMglo, coordenado pelo geólogo Pedro Terrinha, do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.

Foram investigar as falhas geológicas que ligam a zona do golfo de Cádis aos Açores e a ocorrência de comunidades biológicas típicas de zonas de emissão de gás no fundo do mar. Os hidratos de gás não ficaram de fora: "São um potencial recurso energético futuro, porque um centímetro cúbico de hidratos de gás corresponde a 160 centímetros cúbicos de gás natural. São uma forma altamente concentrada de gás", explica um dos elementos da equipa, o geofísico Luís Pinheiro, da Universidade de Aveiro. "Para já, estamos a identificar as zonas onde existem os depósitos. O passo seguinte é fazer trabalhos detalhados, para ver se são exploráveis."

Em 2004, ao mapear-se o fundo do mar, com o navio D. Carlos I, da Marinha Portuguesa, descobriram-se duas falhas alinhadas - as SWIM, da sigla inglesa de margem sudoeste ibérica. A mais longa tem 600 quilómetros de comprimento e está no limite de outra falha importante: a Glória, que depois continua até aos Açores. Ao longo das falhas SWIM têm-se encontrado vulcões de lama, mas esse facto não é estranho porque elas atravessam uma zona de acumulação profunda de sedimentos - o prisma acrecionário do golfo de Cádis.

Qual é a ligação geológica entre as falhas SWIM e a da Glória? Como é a canalização de fluidos hidrotermais ao longo destas falhas? Perguntas para as quais Pedro Terrinha e colegas procuram respostas.

Mas aqui a geologia anda de mãos dadas com a biologia: os elementos químicos nos fluidos no fundo do mar são usados por microrganismos para extrair os nutrientes necessários. Em vez da fotossíntese, em que a luz solar é usada para se obter energia, há a síntese de elementos químicos. Que comunidades de organismos quimiossintéticos existem ao longo daquelas falhas tectónicas é outra das perguntas do projecto.

Mas se as comunidades quimiossintéticas do golfo de Cádis vivem em ambientes frios, nos Açores encontram-se outras em fontes hidrotermais, com água quente carregada de gases e até metais e à sua volta há oásis de vida, como mexilhões e camarões. "Fomos ver se havia uma certa continuidade entre os vulcões de lama, fontes de emissão de fluidos frios, e as fontes hidrotermais dos Açores", explica a bióloga Marina Cunha, da Universidade de Aveiro, que participou na campanha. "Como todos esses ecossistemas estão baseados na produção quimiossintética, tentamos encontrar um fio condutor que permita saber como estão relacionados. Estas falhas ligam uma zona de vulcanismo de lama a uma zona de hidrotermalismo."

Auto-estradas biológicas

Ora os três vulcões de lama estão ao longo das falhas SWIM, só que já longe do prisma acrecionário. "Vulcões de lama em prismas acrecionários há muitos. Os vulcões que descobrimos já estão num ambiente tectónico diferente e isso é surpreendente", frisa Pedro Terrinha.

"Per si, estas falhas podem ter vulcões de lama e fluidos carregados de metano. Isso não se sabia. Podem servir como uma auto-estrada para as comunidades [biológicas] atravessarem o oceano através do fundo do mar", diz o geólogo, referindo que já ficou demonstrado que um troço dessa via está fora do prisma acrecionário.

"Até agora não encontrámos muitas espécies em comum, mas ao nível dos géneros já há mais similaridades, o que é interessante em termos evolutivos. Parece ter havido alguma coisa em comum entre os dois tipos de comunidades, que evoluíram para o aparecimento de espécies diferentes num sítio e noutro", acrescenta Marina Cunha. "A maneira como os organismos se adaptam a determinadas condições ambientais é interessante para descobrir novos processos biológicos, em que actuam enzimas e outros compostos bioactivos que podem ter aplicações mais tarde."

Foi na cratera de um dos vulcões descobertos na expedição que se viram amêijoas gigantes, com seis centímetros de comprimento. Marina Cunha pensa que são de uma espécie que existe ao largo de Angola, em zonas quimiossintéticas próximas de reservas de petróleo e gás, e aí têm até 15 centímetros. "Têm bactérias simbiontes nas brânquias, que utilizam a energia química destes fluidos para produzir alimento para estes organismos"

Nas amostras recolhidas, veio outra espécie de amêijoa, a "Acharax gadirae", que se enterra nos sedimentos. Apanhada já noutros vulcões, Marina Cunha e colegas tinham-na descrito como nova para a ciência em 2011. Também os vermes marcam presença nos novos vulcões de lama, com a recolha das espécies "Spirobrachia tripeira" e "Bobmarleya gadensis", que são igualmente descritas pela equipa de Marina Cunha como novas, em 2008. Têm também bactérias simbiontes, só que no tubo digestivo, e vivem dentro de tubos que constroem.

Se está a pensar que as amêijoas dariam uma boa refeição, esqueça. Num ambiente desses, só podem ser tóxicas."

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Pombos: muda-se um gene, mudam-se os penteados

 
Texto de Ana Gerschenfeld pubicado pelo jornal Público em 01/02/2013.
"Pela primeira vez, o genoma do pombo foi totalmente sequenciado e a sua comparação genética com dezenas de outras raças de pombos domésticos revelou que o facto de estas aves terem ou não uma crista depende de mutações num único gene. Uma das quatro raças portuguesas foi utilizada no estudo.
 
Pombo da raça "gravata velho tipo alemão"
 
À esquerda: gravata italiano; à direita: papo-de-vento Brünner
 
Cambalhota português, uma das raças cujo ADN foi utilizado no estudo
A sequenciação total do genoma do pombo-comum, juntamente com sequenciações parciais dos genes de mais 79 raças de pombos domésticos, é anunciada esta sexta-feira na revista Science por cientistas norte-americanos, chineses e dinamarqueses. O trabalho permite começar a desvendar a origem geográfica destas aves omnipresentes, bem como as bases genéticas dos seus "penteados", por vezes mirabolantes.
 
Dir-se-á que o aspecto dos pombos urbanos não podia ser mais uniforme, mais monótono – mais desprovido de traços esteticamente apelativos. Mas eles são apenas os representantes mais difundidos da espécie Columba livia – e não são de todo originais. De facto, existem hoje no mundo, oficialmente registadas, mais de 350 raças de pombos desta espécie – também conhecidos como pombos domésticos ou pombos-das-rochas.
 
E, entre essas raças todas, as diferenças de cor, de plumagem, de tamanho, de morfologia do corpo e do bico, de vocalização são, pelo contrário, estonteantes. Aliás, os criadores de pombos têm aproveitado essa diversidade para gerar as mais exóticas e fantasiosas variantes, algumas a roçar o monstruoso com o seus peitos desproporcionados, a sua magreza extrema - ou as enormes penas a saírem das suas patas... "Na Europa, há séculos que a criação de pombos se tornou um passatempo muito popular", disse ao PÚBLICO Michael Shapiro, da Universidade do Utah (EUA), que liderou o trabalho agora publicado.
 
Mais de 80 das mais de 350 raças possuem uma crista, que também pode ser de variados tamanhos e feitios, ora parecendo um capuz, ora uma crineira, uma coroa ou até um daqueles penteados dos anos 1970, curtos em cima e compridos atrás. A natureza parece ter mais imaginação a inventar "cortes de cabelo" para os pombos do que o mais criativo cabeleireiro da moda.
 
Mas por que será que algumas raças de pombos têm as penas da cabeça todas viradas na mesma direcção que as do resto do corpo e outras raças não? A resposta tem cinco caracteres: EphB2 – o nome de código de um gene, agora identificado pela equipa de Shapiro nos pombos, que funciona como um autêntico interruptor da formação da crista. Mais precisamente, os pombos com crista têm todos mutações no gene EphB2 e isso faz com que as hastes de uma parte das penas da cabeça se orientem para cima e não para baixo."

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Culturas de óleo de palma libertam carbono "escondido"

Artigo publicado pelo jornal Público em 31/01/2013.
"Estudo mostra como as alterações nas florestas da Malásia estão a libertar carbono aprisionado durante milénios em turfeiras.
Cerca de 80% do óleo de palma mundial é plantado no Sudeste asiático
Um novo estudo científico publicado esta semana reforça as dúvidas sobre a sustentabilidade do óleo de palma como matéria-prima para a produção de biocombustível.
 
O estudo, publicado na edição desta quinta-feira da revista Nature, dá novas pistas sobre um dos impactos temidos da expansão da cultura do óleo de palma: que a desflorestação para abrir caminho às novas plantações liberte vastas quantidades de carbono armazenado em zonas húmidas.
 
Nas florestas tropicais pantanosas, as folhas, galhos e troncos caídos decompõe-se muito lentamente, dado que estão cobertos por água. A camada de turfa resultante deste processo é um enorme repositório de carbono. Com a destruição das florestas e a drenagem das zonas húmidas, a turfa, em contacto com ar, acaba por libertar grandes quantidades de dióxido de carbono, contribuindo para o aquecimento global.
 
Investigadores de várias universidades, do Reino Unido, Holanda e Indonésia, avaliaram os fluxos de carbono em zonas húmidas da Indonésia, transformadas pelo avanço da cultura do arroz, e da Malásia, com plantações de óleo de palma. Numa zona húmida “perturbada”, o fluxo de carbono é 50% maior do que em áreas “não-perturbadas”. Além disso, a origem do carbono é diferente. Nas áreas “não-perturbadas”, vem do crescimento das plantas. Nas “perturbadas”, a origem é o stock de carbono das turfas, onde está armazenado há milhares de anos.
 
“Já sabíamos que as plantações de óleo de palma do Sudeste asiático eram uma grande ameaça para a biodiversidade, e que a drenagem [de zonas húmidas] pode libertar grandes quantidades de dióxido de carbono durante os flogos florestais”, afirma Chris Freeman, um dos autores do artigo, citado pela agência Reuters. “Mas a descoberta de uma nova fonte ‘escondida’ de problemas nas águas destas turfeiras é um aviso de que estes frágeis ecossistemas precisam de ser conservados”, completa.
 
Mais de 80% do óleo de palma consumido no mundo é produzido na Indonésia. Todos os anos, uma área aproximadamente do tamanho da Grécia é desflorestada para dar lugar a novas plantações."