quarta-feira, 25 de abril de 2012

Células estaminais- Cientistas conseguem fazer crescer pêlos em ratinhos carecas

Em artigo publicado pelo Público, Nicolau Ferreira dá-nos conta de uma importante investigação que poderá estar na base de um tratamento eficaz do problema da alopécia, vulgo calvíce, que afeta principalmente indivíduos do sexo masculino.
"O elixir da eterna juventude vem aos pedaços. Agora, uma equipa japonesa conseguiu fazer crescer pêlos em ratinhos carecas, com todas as funções. Este desenvolvimento foi feito usando células estaminais adultas da pele, que têm capacidade de originar vários tipos de células. Publicado na última edição da revista Nature Communications, o trabalho é um passo para o fim da calvície.

O segredo foi apostar nas estruturas que dão origem aos folículos capilares – os pequenos invólucros, que existem na pele, de onde nascem os pêlos do corpo e da cabeça. A formação dos folículos só ocorre durante o desenvolvimento do feto e, quando esta estrutura desaparece, a sua substituição não é possível e os pêlos deixam de crescer.

Mas, até lá, existem células que envolvem o folículo e que durante toda a vida vão produzindo pêlos ciclicamente. A equipa de cientistas, liderada por Takashi Tsuji, da Universidade de Ciências de Tóquio, utilizou as células dos folículos para fazer crescer pêlos. Os cientistas trabalharam com dois tipos de células estaminais dos folículos, umas que estão por baixo da raiz do pêlo e outras mais acima, ao lado do pêlo.

No laboratório, os cientistas juntaram as duas populações de células de ratinho e criaram uma bolinha de células que implantaram na pele de ratinhos carecas. Passados 14 dias, 74% dos 62 animais tratados tinham um tufo de pêlos a crescer saudavelmente no dorso.

Boa densidade capilar

Apesar da "plantação" ter resultado, quase todos os pêlos não tinham pigmentação. Ou seja, nasceram brancos. Mas a equipa conseguiu obter pêlos escuros, adicionando à bolinha células que produziam pigmentos.

Mais: os folículos capilares que se desenvolveram tinham ligações nervosas, glândulas sebáceas e fibras musculares associadas, o que permite que os pêlos se ericem, como acontece quando temos frio.

Tal como os folículos naturais, a equipa de Takashi Tsuji verificou ainda que os novos folículos originavam ciclos de crescimento e de morte dos pêlos. Estes ciclos, refere Tsuji num comunicado, mantiveram-se durante quase um ano.

"Pensamos que os folículos capilares construídos por bioengenharia podem funcionar durante o tempo médio de vida", diz. É assim uma plantação duradoura.

Numa outra experiência, os cientistas testaram o que aconteceria se construíssem bolinhas com células de folículos capilares de um homem com alopécia, o nome técnico da calvície, comum no sexo masculino.

Implantaram essas células nos ratinhos e, em 21 dias, cresceu cabelo escuro. Um resultado que é animador para o tratamento deste problema.

Para testar se seria possível ter uma densidade capilar boa, o que significa entre 60 a 100 pêlos por centímetro quadrado, a equipa fez ainda outra experiência: implantou 28 bolinhas de células de ratinho num centímetro quadrado da pele de três animais. E obteve bons números: em média, nasceram 124 pêlos.

"Estes resultados indicam que o transplante de folículos capilares feitos através da bioengenharia podem ser aplicados no tratamento da alopécia", conclui o artigo.

Num comentário feito na revista Nature, Mayumi Ito, dermatologista de Nova Iorque, sublinha que este é o primeiro relato da reconstituição de folículos capilares com células humanas. Para Mayumi Ito, falta agora a equipa mostrar que consegue disseminar os folículos capilares numa região maior".

quinta-feira, 19 de abril de 2012


Fauna a 2 Mil Metros de Profundidade na Antártida

No âmbito do programa “Census of Marine Life”, foi realizado um estudo sobre as fontes hidrotermais nos fundos marinhos do East Scotia Ridge, na Antárctica, liderado por uma equipa da universidade britânica de Oxford, constituída por cientistas dos Estados Unidos, Escócia, Espanha e Portugal. Este tinha como objectivo averiguar a hipótese de que o Oceano Antárctico funcionava como uma ponte entre os outros grandes oceanos do mundo, permitindo a dispersão de organismos. Deste modo, as fortes correntes deste oceano ajudariam as espécies a moverem-se de um oceano para outro, pelo que os cientistas esperavam encontrar uma fauna bastante diversificada neste local.

Estas fontes hidrotermais caracterizam-se por se encontrarem a cerca de 2300 metros de profundidade, atingirem temperaturas que rondam os 280 graus centígrados e, ainda, por apresentarem condições ambientais extremas (ondas que podem chegar aos 20 metros e nevões constantes) que constituem um obstáculo ao estudo dos fundos marinhos da Antárctida durante o inverno do hemisfério Sul.

O estudo da fauna nas fontes hidrotermais é uma área relativamente nova da ciência, assim, com este estudo, os cientistas esperavam encontrar a fauna típica das fontes hidrotermais de outros oceanos constituída por animais como, por exemplo, mexilhões, caranguejos e camarões.

No entanto, esta expectativa não se verificou, sendo encontrada uma fauna muito diferente da prevista na qual se encontraram incluídas comunidades completamente diferentes das conhecidas, não só ao nível dos animais como também das combinações de espécies. Estas particularidades levam os cientistas a considerar esta região como uma zona biogeográfica única, dado que é possível que as duras condições das águas da Antárctida possam actuar como uma barreira para alguma fauna das fontes hidrotermais.

Entre a particular fauna, foram encontrados a 2500 metros de profundidade novas espécies de caranguejo, estrela-do-mar (predadora com sete braços), cracas, anémonas e um polvo branco. A nova espécie de caranguejo descoberta, designado caranguejo-yeti, distingue-se por ser branco e apresentar pêlos no ventre, ao contrário dos caranguejos-yeti conhecidos do Pacífico Sul que apresentam pêlos nas patas que são utilizados para cultivarem bactérias das quais se alimentam. Para além disso, estes novos seres vivem em grandes grupos, tendo sido encontrados amontoados próximo dos fluxos das fontes hidrotermais, existindo em alguns locais cerca de 600 indivíduos por metro quadrado.


A descoberta foi revelada num artigo publicado na revista científica PLoS Biology, em que a investigadora da Universidade de Aveiro Ana Hilário, bióloga especializada em estudos marinhos, aparece como sendo a única portuguesa entre os autores e a participar na expedição à Antárctida.


Beatriz Bandarra e Fabiana Duarte, alunas do 11ºB

sexta-feira, 30 de março de 2012

Cientistas portugueses criam repelente de mosquitos ativado pela luz do Sol


Samuel Silva, num artigo da edição de 29 de março do jornal Público, dá-nos conta do que por cá se vai fazendo no campo da investigação científica. Os insetos e, em particular os mosquitos, que se cuidem, com a criação de um produto que liberta repelentes e inseticidas por ação da luz solar. E já agora, quando será a vez, de um produto que atue sobre os demagogos da nossa praça...


"Malária, febre de dengue e outras doenças transmitidas por mosquitos podem ter a propagação mais dificultada com um novo material desenvolvido em Portugal. Uma equipa de cientistas, liderada pela Universidade do Minho (UM), criou um material que liberta repelentes e inseticidas por ação da luz solar. Já mereceu atenção no Brasil e é visto como uma forma de combater epidemias nos países em desenvolvimento.


Os cientistas desenvolveram minúsculas cápsulas no interior das quais pode colocar-se praticamente qualquer composto: em contacto com a luz do Sol, libertam-se os repelentes ou inseticidas, de forma controlada. "Deixamos de precisar de eletricidade, que é normalmente utilizada para libertar os repelentes", explica o físico Carlos Tavares, da UM, que coordena o projeto.

A tecnologia pode ser usada em zonas remotas, onde não exista rede elétrica, sobretudo em países em desenvolvimento. O material pode depois ser aplicado a qualquer superfície, seja um vidro de uma casa ou o tecido de uma tenda. As potencialidades desta microcápsula motivaram o interesse de alguns países, nomeadamente do Brasil, onde serão feitos testes aos materiais no terreno (Carlos Tavares prefere não avançar o nome dos interessados, dizendo que o acordo ainda não é concreto).


Desodorizante nas cortinas


No centro desta investigação estão materiais fotocatalíticos, que são ativados pela luz solar, provocando várias reações. Um composto é colocado numa cápsula polimérica, que o sol faz abrir os poros e o químico é libertado. Mas tudo é feito à escala de mícrones (milésimos de milímetro) e os materiais dentro das cápsulas são ainda mais pequenos.


Desde 2004 que a investigação de Carlos Tavares está concentrada nos materiais fotocatalíticos, o que lhe permitiu desenvolver revestimentos que podem aplicar-se a um vidro, para se limpar sozinho. Expostos à luz solar, estes materiais, bastante finos para não interferirem na transparência do vidro, entram em contacto com os poluentes e degradam-nos.


A partir desta inovação, Carlos Tavares começou a pensar noutros usos que poderia dar a estes materiais. Durante uma palestra de um colega da sua universidade, ouviu falar de aromas e pensou em usar a tecnologia que tinha desenvolvido na libertação controlada de aromas.


O projeto integra também cientistas das universidades do Porto e Coimbra e do Instituto de Higiene e Medicina Tropical, em Lisboa, onde serão feitos os últimos testes ao inseticida, nas colónias de mosquitos deste centro. Nos próximos três anos, os 15 cientistas da equipa vão aperfeiçoar as tecnologias já disponíveis para tornar os produtos mais eficazes, como por exemplo levar os materiais a absorver mais energia solar. Os fotocatalíticos desenvolvidos pela UM só absorvem a luz ultravioleta, que é três a cinco por cento da luz solar. A equipa também trabalha na espessura dos poros das cápsulas, para controlar melhor a quantidade libertada de substâncias.

Além das instituições académicas, há uma empresa no projeto, a Micropolis, nascida na incubadora da UM, que tem desenvolvido cápsulas libertadoras de repelentes para a indústria têxtil, ativadas por ação mecânica, por exemplo através da fricção do corpo num tecido.

A cápsula ativada pela luz solar permitirá reduzir a perda de efeito dos repelentes com as lavagens. Até porque não são só inseticidas e repelentes que podem ser introduzidos nas cápsulas. O composto pode ser aplicado a cortinas e servir como desodorizante de espaços interiores, o que, antecipa Carlos Tavares, até "pode ser mais atrativo do ponto de vista comercial"."

domingo, 25 de março de 2012

Construídos 12 ninhos para o regresso do abutre-preto ao Alentejo


Helena Geraldes, num artigo publicado na secção Ambiente da edição do Público de 24 de março destaca os esforços levados a cabo no Alentejo para facilitar a reprodução do abutre-preto.

"No coração do Alentejo, em pleno habitat mediterrânico onde abundam a urze e o tojo, acabam de ser construídos 12 grandes ninhos de abutre-preto, a maior ave de rapina da Europa e espécie Criticamente em Perigo em Portugal.

Estas 12 estruturas, compostas por varas metálicas e um cesto na ponta, foram colocadas na Herdade da Contenda, propriedade com 5300 hectares da Câmara Municipal de Moura, encostada a Espanha ao longo de 19 quilómetros.

O último ninho foi montado a 14 de Março. Nessa manhã, Alfonso Godino, 39 anos, subiu a um pinheiro, nove metros acima do solo. "A estrutura fica com 80 a 90 quilos, mas pode chegar aos 200. Tem de ser muito resistente, porque o abutre é um animal grande e pesado (três metros de envergadura de asa e 12 quilos) e tem uma época de reprodução muito longa", disse ao PÚBLICO o coordenador da equipa técnica do Centro de Estudos da Avifauna Ibérica (CEAI) e responsável pelas acções de conservação do abutre-preto.

Depois de se prender em segurança no topo do pinheiro, Alfonso ajudou os dois sapadores florestais e o técnico da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) que ficaram lá em baixo a içar a vara metálica, deitada no solo, com a ajuda de uma corda, até que esta ficasse na vertical, encostada ao tronco da árvore. "Agora, devagar. Cuidado." Para Alfonso, que já montou em Portugal 22 ninhos de abutre, esta é a parte mais difícil. "É crucial que o ninho fique estável." Mas à primeira tentativa, a vara ficou demasiado curta. "Não está bem, vai ter de descer." À segunda foi de vez. "Perfeito! Bom, fica porreiro." Duas estacas no chão ajudaram a fixar a base e correntes metálicas prenderam a vara à árvore. Nas horas seguintes, paus e troncos foram içados através de um sistema de roldanas para forrar o cesto metálico do ninho. "Um ninho, normalmente, demora um dia a ser instalado, se estiverem a trabalhar quatro pessoas", disse Alfonso.

O esforço faz parte do projecto Life Habitat Lince Abutre (2010-2014), para melhorar as condições de ocorrência destas duas espécies no Alentejo (Mourão, Moura e Barrancos e vale do Guadiana) e Algarve (Caldeirão).

Só três casais

Durante mais de 50 anos, o abutre-preto (Aegypius monachus) não fez ninho em Portugal. Em 2010 e 2011 regressou ao Tejo Internacional onde nidificaram três dos 7200 a 10.000 casais que a Birdlife International estima existirem no planeta.

O declínio em Portugal deveu-se à perda de habitat, incluindo locais para nidificação, ao envenenamento, colisão e electrocussão em linhas eléctricas e à diminuição de alimento disponível, especialmente coelho-bravo e cadáveres de animais. O abutre tem um papel crucial na sanidade do ecossistema mediterrânico, ao actuar como agente de limpeza natural, removendo cadáveres.

A instalação de ninhos na Contenda quer dar uma ajuda. "Os locais escolhidos são pouco perturbados, com muito declive e matos", explicou Alfonso Godino. "A conservação do abutre e de outras espécies ameaçadas é muito compatível com actividades como a caça, a extracção de cortiça, o mel, etc., desde que haja colaboração de todos. O que estamos a fazer na Contenda é um exemplo de que as espécies ameaçadas não são uma chatice nem reduzem os recursos disponíveis.

"A Contenda, onde vive apenas uma família de cinco pessoas que cuida dos rebanhos de cabras, quer ser uma experiência-piloto de como se pode compatibilizar a conservação com o desenvolvimento, disse ao PÚBLICO o presidente da Câmara de Moura, José Maria Pós-de-Mina. "Não nos podemos esquecer que o concelho tem hoje 15.200 habitantes, metade do que tinha nos anos 50, nem que as pessoas ainda consideram a conservação da natureza como uma questão de proibição. Mas a Herdade da Contenda e projectos como este podem dar um contributo para a demonstração e sensibilização.

"Miguel Ramalho - da empresa municipal Herdade da Contenda, que gere o espaço - contou que ali trabalham 14 pessoas e que estas "estão preparadas para ajudar no que for preciso". Nomeadamente, no esforço para aumentar as populações de coelho-bravo, dizimadas por doenças como a mixomatose (nos anos 50) e febre hemorrágica viral (nos anos 80). Eduardo Santos, da LPN e coordenador do projecto Life Habitat Lince Abutre, disse que estão a ser criados marouços (tocas artificiais de coelho) e a ser instalados comedouros e bebedouros, bem como pastagens de cereais e leguminosas para coelho. Especificamente para ajudar o abutre, está a ser criado um campo alimentador, vedado, com cerca de um hectare de extensão.

"A Contenda é um espaço muito especial", contou Eduardo Santos. "É considerada, há muito, uma das melhores áreas de habitat para o lince-ibérico e para o abutre-preto. Está bem conservada e tem uma área com muito boa dimensão." Ali "são observados regularmente, em média, 20 abutres-pretos. A zona é usada por estas aves como área de alimentação e alguns já foram vistos a pernoitar no perímetro da herdade". Esta está localizada a 20 quilómetros de uma colónia de abutre-preto em Espanha com 100 casais.

Por esta altura, as crias de abutre-preto já estão quase a nascer, em Abril. Mas este ano os novos ninhos artificiais da Contenda ainda não serão utilizados. Eduardo Santos acredita que "na próxima época de reprodução, que começará em Dezembro e terminará em Setembro [altura em que as crias abandonam os ninhos], os animais já estejam habituados a estes ninhos e que sejam convencidos a ficar por cá".

sábado, 24 de março de 2012

Há um gene que reage ao calor e faz a Primavera chegar mais cedo


Na secção Ambiente da edição do Público de 22 de março, Nicolau Ferreira destaca um artigo em que a Nature revela a existência de um gene que apressa a floração das plantas em responta ao aumento da temperatura ambiental.

"O tempo aquece e as plantas respondem com flores, mesmo que pelo calendário ainda seja Inverno. O fenómeno é testemunhado há muito, mas agora cientistas conseguiram determinar qual o gene responsável por este gatilho, os resultados foram publicados nesta semana, na Nature, e podem ajudar a prever os efeitos futuros do aumento de calor nos ecossistemas.

As flores podem ser vistas como folhas que foram comandadas para se transformar em sépalas, pétalas, estames e carpelos. Conhecem-se bem os genes que dizem a cada parte de um rebento para se transformar numa das estruturas da flor, e sabe-se que é a activação do gene Floregin que inicia a floração. “Tanto o tamanho do dia como temperaturas mais quentes provocam o funcionamento da Floregin. Algumas plantas, como a rosa, parecem estar mais dependentes do fotoperíodo do que da temperatura, mas isto ainda não é muito bem compreendido”, disse Philip Wigge ao PÚBLICO. O cientista pertence ao Centro John Innes, em Norwich, Reino Unido. É líder da equipa e último autor do artigo.

Apesar de se conhecer fisiologicamente como é que o fotoperíodo e os dias mais prolongados fazem activar a Floregin, ainda não se tinha conseguido desvendar o mesmo processo para a temperatura. Mesmo a forma como o calor afecta e transforma a actividade das plantas é mal compreendido. “Em 2010 publicámos um artigo na revista Cell que mostra que a cromatina (o ADN enrolado dentro [do núcleo] da célula) torna-se mais aberta a temperaturas mais altas”, explicou. Isto poderá tornar os genes mais facilmente utilizáveis.

Mais adaptadas

Além disso, o facto de a temperatura ser muito variável pode fazer adiantar a floração de muitas espécies, uma mudança que já é associada ao aquecimento global. Este aumento de calor pode extinguir umas plantas, melhorar o desempenho de outras, mas irá alterar sempre os ecossistemas. Para perceber este fenómeno, a equipa de Wigge foi estudar a influência da temperatura na floração da Arabidopsis thaliana, a espécie é utilizada por excelência para investigar a fisiologia das plantas. A Arabidopsis cresce cerca de 25 centímetros, dá pequenas flores brancas e foi o primeiro vegetal que viu o seu genoma sequenciado.

Os cientistas avaliaram a actividade do gene chamado PIF 4 na floração. O PIF 4 funciona activando outros genes e já se sabia que está associado a alterações estruturais das plantas em resposta à temperatura. Numa experiência, a equipa testou a capacidade da floração de uma planta mutante da Arabidopsis para o gene PIF 4. A uma temperatura de 27 graus a planta selvagem desenvolvia flores enquanto o mutante não. “As temperaturas mais quentes activam o PIF 4, o que causa a expressão do gene Floregin” e a floração.

Segundo Wigge, as plantas que estão mais dependentes do calor acabam por florir mais rápido se o tempo primaveril se antecipa. “Isto faz com que sejam mais competitivas em relação a outras plantas que utilizam a duração do dia para iniciar o crescimento e a reprodução.” Esta descoberta pode ajudar a perceber como é que os ecossistemas vão evoluir com o aumento das temperaturas. Mais, estes processos são importantes para a protecção das culturas agrícolas. “A maioria das culturas como o trigo ou o arroz já estão a crescer perto do topo do intervalo óptimo de temperaturas. Queremos produzir modificações no mecanismo que reage à temperatura para produzir plantas que possam crescer em climas diferentes.”

Contacto precoce com germes bom para a saúde


Ana Gerschenfeld, num artigo publicado na edição de 23 de março do Público, dá-nos conta de um estudo que parece confirmar a ideia de que o aumento das alergias nas crianças nos dias que correm poderá ser resultado do excesso de assepsia.

"Há anos que se pensa que a exposição das crianças desde cedo aos micróbios que normalmente nos rodeiam é importante para estimular o seu sistema imunitário. Só que até aqui, não havia indícios biológicos nem potenciais mecanismos que sustentassem a ideia, baptizada “hipótese da higiene” e que responsabiliza os elevados níveis de higiene do estilo de vida moderno e urbano (e o recurso precoce aos antibióticos) pelo aumento das alergias, da asma e das doenças auto-imunes. Mas ontem, Richard Blumberg e colegas, do Hospital Brigham and Women’s de Boston, nos EUA, publicaram na revista Science os primeiros resultados susceptíveis de pôr finalmente fim ao debate.

Os cientistas compararam os sistemas imunitários de ratinhos criados para serem “livres de germes” com o de ratinhos que viviam num ambiente normal – ou seja, cujo organismo continha bactérias e outros micróbios. Por um lado, constataram que os ratinhos “sem germes” apresentavam inflamações dos pulmões e do cólon semelhantes à asma e à colite e que esse estado se devia à hiperactividade de um certo tipo de linfócitos T já associados a estas doenças noutros estudos. Mas, mais importante ainda, descobriram que quando expunham os ratinhos sem germes aos micróbios logo durante as primeiras semanas de vida, o seu sistema imunitário normalizava-se e essas doenças não surgiam – o que não acontecia quando os animais só eram expostos aos micróbios já na idade adulta. A protecção imunitária obtida no primeiro caso era, para mais, de longa duração.

“Estes estudos mostram a importância crucial de um condicionamento imunitário adequado por micróbios logo nas primeiras fases da vida”, diz Blumberg. Porém, os cientistas permanecem prudentes, salientando que ainda serão precisos estudos em humanos".

Nasceram sete crias de lince-ibérico no centro de Silves

Na edição do Público de 23 de março, Helena Geraldes, num artigo a seguir transcrito, dá-nos conta do andamento do projeto levado a cabo no Centro de Reprodução de Lince-ibérico em Silves, que tem como objetivo salvar o lince-ibérico da extinção.

"Sete crias de lince-ibérico, uma das espécies-símbolo da luta contra a extinção de animais, nasceram no início de Março no Centro de Reprodução de Lince-ibérico em Silves. Uma acabou por morrer e as outras seis estão bem de saúde.

A época de partos em Portugal foi inaugurada com Biznaga, uma fêmea que deu à luz três crias a 5 de Março, segundo informações do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB). “Duas das crias foram abandonadas uma hora após o nascimento, pelo que está a ser tentada a sua sobrevivência com amamentação artificial e incubadora”, de acordo com uma nota do instituto. Hoje pesam cerca de 400 gramas cada uma. A terceira cria acabou por morrer passadas 48 horas, apesar de a fêmea ter “demonstrado cuidados parentais normais”.

Biznaga, com seis anos, foi mãe pela primeira no ano passado e deu à luz duas fêmeas, depois de 64 dias de gestação. Mas Biznaga acabou por abandonar as crias poucas horas depois, algo normal para as fêmeas que dão à luz pela primeira vez. Os animais acabaram por não resistir.

Além de Biznaga, outra fêmea foi mãe no início deste mês. A 6 de Março foi a vez de Castañuela dar à luz quatro crias. “Apesar de serem muito raros partos com número tão elevado de crias, esta fêmea mostra grande dedicação e demonstra estar a cuidar adequadamente de toda a sua prole, que segue com actividade e ritmos de lactação normais”.

A temporada de cria 2011/2012 começou em Dezembro e só terminará em Abril. Em Silves foram formados nove casais, pelo que se esperam mais novidades para breve. Além das parelhas Biznaga e Drago e Castañuela e Fado foram formados os casais Fresa e Eon, Flora e Foco, Fruta e Fresco, Era e Fauno, Espiga e Calabacin e Azahar, Enebro, Erica e Gamma. As datas previstas para os partos estendem-se até a primeira semana de Abril, segundo o Programa ibérico de reprodução em cativeiro para esta espécie.

A população residente do Centro de Reprodução de Lince-ibérico em Silves conta, de momento, com 18 linces (nove fêmeas e nove machos): 13 dos que inauguraram o centro em 2009, três foram transferidos no final de 2010 e dois transferidos no final de 2011.

"Este é um projecto muito querido do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade", disse ao PÚBLICO Paula Sarmento, presidente do Instituto. "O lince-ibérico é uma espécie emblemática para a Península Ibérica, nomeadamente para Portugal", acrescentou.

Este é o segundo ano de reprodução em Silves. Na época 2010/2011 foram registados seis abortos e três crias - das fêmeas Biznaga, Fresa, Fruta e Azahar. Mas nenhuma das três crias sobreviveu.

"Agora, este ano está a correr muito melhor e aguardamos com alguma expectativa" o que se passa em Silves, disse Paula Sarmento. "O centro está a acompanhar as mães e as crias, 24 horas por dia, através de televigilância", acrescentou.

A rede ibérica dos cinco centros de reprodução em cativeiro – Silves, El Acebuche, La Olivilla, Granadilla e Gerez – conta esta época de reprodução com um total de 28 casais. E já há uma história de sucesso para contar. Pela primeira vez, uma equipa de um destes centros (El Acebuche, em Doñana) recuperou uma cria que tinha sido abandonada pela mãe, Boj, através sete dias em cuidados intensivos numa incubadora, e conseguiu que a progenitora a aceitasse de volta.

A reprodução em cativeiro é uma solução de fim de linha para tentar evitar a extinção do lince-ibérico (Lynx pardinus). O objectivo é reforçar com estes animais as duas únicas populações em estado selvagem, em Doñana e na Serra de Andújar, na Andaluzia. Para este ano, o programa de conservação espanhol pretende reintroduzir na natureza entre 14 e 15 linces nascidos em cativeiro, nomeadamente nas populações silvestres de Guadalmellato (Córdova) e Guarrizas (Jaén).
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As condições difíceis que o país atravessa são indiscutíveis. Mas projectos como este, que contam com patrocínios como medidas de minimização de impactes, podem ser uma mais-valia para o desenvolvimento de uma região, nomeadamente através do turismo de natureza", considerou ainda Paula Sarmento".