A National Geographic foi uma das entidades que
manifestaram interesse em entrar como novas financiadoras do projecto,
que envolve também o município e a Fundação António Aleixo.
Ilustração artística do Metoposaurus algarvensis JOANA BRUNO |
A equipa de cientistas que
descobriu fósseis de um anfíbio gigante com cerca de 200 milhões de
anos, no interior do concelho de Loulé, vai voltar a escavar, no próximo
Verão. O antigo lago, agora seco, apresenta-se como um cemitério destes
antepassados das salamandras e sapos. Um protocolo assinado entre a
Universidade Nova de Lisboa, Câmara de Loulé e Fundação António Aleixo
vai permitir a atribuição de bolsas de investigação, com vista a
aprofundar o conhecimento da nova espécie – Metoposaurus algarvensis.
O
paleontólogo Octávio Mateus, da Universidade Nova de Lisboa, em
declarações ao PÚBLICO, considera que é “absolutamente extraordinário” o
que foi encontrado sobre os metopossauros, com a forma de uma enorme
salamandra, com cerca de dois metros. Além deste cientista português, a
equipa integra investigadores das universidades de Edimburgo, Birmingham
e Museu da História Natural de Paris. Os apoios financeiros vieram, até
agora, quase exclusivamente de entidades estrangeiras. Até 2007, altura
em que se realizou a primeira expedição ao local, recordou, o
conhecimento sobre os metopossauros na Península Ibérica limitava-se ao
registo de “alguns vestígios que tinham sido identificados em artigos
científicos”. Porém, o que as escavações trouxeram à superfície leva a
concluir que ainda há muito descobrir sobre a vida das criaturas que
viveram em lagos e rios durante o período Triásico, de forma semelhante
aos crocodilos. “A National Geographic manifestou interesse em financiar a investigação”, revelou, acrescentando que tenciona retomar as escavações no próximo Verão.
Octávio
Mateus esteve na passada terça-feira em São Brás de Alportel a fazer
uma comunicação sobre as investigações que estão a ser desenvolvidas no
Algarve. No Museu do Trajo, a assistência, constituída pela comunidade
de estrangeiros residentes no concelho, questionou-o sobre os fósseis de
crocodilos e tubarões encontrados nas rochas das arribas do Algarve. O
maior crocodilo do Jurássico, disse o paleontólogo, “foi descoberto no
Algarve, no século XIX, e a região tem um bom registo de sedimentos que
vem desde há mais de 300 milhões de anos”, frisou. Em termos de futuro, o
investigador da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova
de Lisboa defende que o trabalho deve prosseguir “com estudantes que
fiquem no Algarve”, considerando por isso revelante o protocolo de
cooperação assinado com o município de Loulé.
A descoberta do Metoposaurus algarvensis foi revelado num artigo científico publicado na revista Journal of Vertebrate Paleontology (ver
PÚBLICO 25/3/2015). Nele se explica que, além de se tratar de uma
espécie nova para a ciência, constitui também a “primeira espécie de
metopossauro da Península Ibérica, tendo por base vários exemplares
excepcionais de uma acumulação de ossos do Triásico Superior no
Algarve”. Octávio Mateus recorda o primeiro encontro dos especialistas
no terreno. “Na primeira visita, em 2007, descobrimos logo a jazida
principal, e logo aí ficámos com os olhos esbugalhados.” “[O que se
encontra no local] é absolutamente extraordinário, pois estamos a falar
de um dos melhores locais do país em termos de vertebrados fósseis –
sabíamos que existia, mas não com esta riqueza.”
As escavações
levadas a cabo estão ainda limitadas a uma área de cerca de quatro
metros, mas os vestígios encontrados levam os cientistas a concluir que
estão perante um cemitério de anfíbios gigantes onde centenas de animais
terão morrido quando o lago secou. A maioria destes animais desapareceu
durante uma extinção em massa que ocorreu há 201 milhões de anos, muito
antes da morte dos dinossauros.
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